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sábado, 6 de junho de 2009

Amadores no Ironman - Uma tribo feita de tribos diferentes


Me lembro que em março de 2005, exatamente dois meses antes da largada do Ironman Brasil daquele ano, o professor universitário Roberto Melchior, meu amigo de longa data, me telefonou solicitando informações de como se inscrever na prova. Disse Roberto que tinha muito interesse em completar tal desafio e prontamente o direcionei no caminho certo.
Dias depois, Roberto me ligava dizendo que já estava inscrito. E, para minha surpresa, ainda me fez outra pergunta.

"- Silvão. Estou inscrito. Preciso de sua ajuda. Onde eu posso comprar uma bike adequada?"

E assim foi. Roberto comprou uma bicicleta para fazer o Ironman 2005. E completou, não me lembro o tempo. Disse-me ter sido um dos dias mais felizes de sua vida. Estavam lá na linha de chegada eu, nosso amigo Renato Solano, minha mãe e a namorada dele na época. Era aniversário dele. Que presente de aniversário.
Nesse ano não foi muito diferente. Pouco menos de três meses antes da largada da prova desse ano, o professor de educação física e amigo Bruno Chinarelli me ligou. Me falou que havia uma possibilidade de inscrição e que tinha muita vontade de realizar o sonho. Queria saber o que eu achava.
Fico imaginando o quanto eu tenho de credibilidade nas minhas avaliações, porque essa galera só liga pra mim nessas horas de perrengue.
E, como eu já havia feito o Ironman em 2005 e sei o quanto é fascinante a possibilidade de se tornar um, não frustrei os sonhos do Bruno. Diferentemente do Roberto, Brunão já havia feito algumas provas longas durante o ano de 2008, mas estava muito em cima da hora para incrementar treinamento.
Conversamos, criamos algumas estratégias bem básicas de treinamento porque o tempo era curto. Alguns pedais e corridas mais longos e um enorme "boa sorte" fizeram parte da estratégia.
Acompanhei o Bruno nessa empreitada até Florianópolis. Nos alojamos no Sesc Cacupé, 7 kms afastado do "glamour" da prova e tudo deu certo. Brunão completou a prova no tempo previsto, chorando e ao lado de sua mãe, igualmente chorona.
Esses dois exemplos citados servem para caracterizar uma das tribos que compõe o perfil dos atletas que buscam esse tipo de desafio.
Enquanto acompanhava a prova do lado de fora, primeiro fotografando malucamente os momentos de natação e ciclismo, incansável e em pé, e depois com minha bicicleta acompanhando a angústia de uma corrida que tarda a terminar, eu pensava quais as características de cada tipo de tribo de atletas.
Prefiro dizer que o Ironman não é uma prova característica de categorias de idade. Penso que o ideal seja nominar as tribos como sendo "atletas 10-11 horas", "atletas 11-12 horas", "atletas 12-13 horas" e assim por diante.
Independentemente da idade dos atletas, o que caracteriza essas tribos são as aptidões características de cada uma delas.
Observei atentamente alguns casos.
Cheguei a conclusão de que atletas que completam a prova entre 10 e 11 horas são aqueles que possuem uma homogeneidade entre as 3 etapas características. Se não são qualificados para figurarem nos top "9-10 horas", ao menos se preparam adequadamente para terem uma performance ideal nos três momentos.
De 11 a 12 horas, fica marcante que essa tribo, em algum momento da prova encontra uma dificuldade muito maior em relação aos outros. Se possuem uma natação forte, encontram uma grande dificuldade em completar uma boa maratona (o que é característico de bons nadadores). Se correm bem, enfrentam o ciclismo de uma forma mais comedida esperando a recuperação na etapa de corrida. Isso fica muito claro durante a prova.
De 12 a 13 horas, essa disparidade fica acentuada. Uns com um ciclismo muito superior a corrida, e vice-versa. É perceptível (e eu posso afirmar porque fiquei de pé em frente do pórtico de chegada desde 11 até 14 horas de prova) como é nessa tribo que aparecem as maiores expressões de dor na chegada. Talvez por não terem optado por dosar em um ou em outro momento e pagarem um caro preço por não serem constantes. O Ironman é uma prova longa, que exige auto-controle mental e físico. Quem extrapola pagará o preço, mais cedo ou mais tarde.
De 13 horas pra cima, acontece de tudo. Atletas que são constantes porém lentos. Atletas de age group avançados. E, principalmente, os aventureiros.
Me lembro que, acompanhando o Brunão de bike, encontrei o Marcílio na subida da igreja, próximo a Canasvieiras. Ele me disse que não estava apreciando o Ironman. Disse que tinha muita gente ali que não tinha a menor condição de estar competindo numa prova tão dura. Evidente que eu discordei, tentando justificar que o Ironman é mais do que condição física. É condição mental, altruísmo, estilo de vida, e isso independe de percentual de gordura ou condicionamento físico.
E justamente por isso classifico a galerinha do Ironman em tribos.
Eu mesmo, em 2005, treinei 9 meses pra prova. Cheguei a completar uma meia maratona, na Praia Grande, 6 meses antes, em 1h23min (abaixo de 4min/km), venci uma etapa do Troféu Brasil de Triathlon com 5 min de vantagem em relação ao segundo, perdi 19 kgs, larguei com 77 kgs (tenho 1,88 de altura e quem me conhece sabe o quão difícil é pra eu perder peso), fui ao meio Ironman de Ubatuba e só não venci por bolhas nos pés que me fizeram parar no km 15 sem ao menos poder andar pra completar (e o vencedor passou por mim somente 16 minutos depois que eu havia parado). Fui ao Ironman com pretensões bastante confiáveis de que poderia obter minha vaga para o Hawaii. E, ao final do trecho de pedal, meu sonho estava próximo. Mas o fim também. Entreguei a bike exausto, fadigado, e longos 47 minutos se passaram até que eu resolvesse sair da transição em direção à maratona. Fiz parte da tribo das 12 horas, porque fui obrigado a colocar o "Plano B" em ação. Quando você não consegue uma meta, tem que ter outras em mente pra completar seu objetivo. Ali minha meta já não era mais o Hawaii. Era apenas completar. E realizar meu objetivo. E assim foi, por meus pais e amigos que ali estavam.
E, nesse ano, de fora pude participar de muitos momentos assim.
O Ironman é mágico. Encantador, fascinante e desafiador.
Haroldo Larajeira diz que triatleta que não faz Ironman não entra no céu. Eu já tenho meu passaporte.
Mas como ainda falta muito pro céu, quem sabe no próximo ano eu reforce o carimbo.
Parabéns a todos os Ironman 2009.

3 comentários:

Verônica Martins disse...

Alohaaaa
um dia quero poder virar uma IronWoman!!!!
e ir ao HawAi!
com ctz me falatm elogios a esses grandes malucos guerreiros!
parabens a todos!
bjos
veroka

Claudia disse...

ae Silvão!!!
tá show seu blog..
vc se saiu um ótimo repórter esportivo na cobertura do iron!!!
parabénsssss

Stipa disse...

Caraca Silvão, esse teu lado "repórter" tá abusado!!!! Tá muito show!! Sensacional os comentários e a descrição de como é a prova!
Pra quem já fez, vai lendo e saboreando, relembrando os momentos e se identificando com cada descritivo!
É isso aí Silvão, parabéns pelas "reportagens". Ano que vem estaremos lá! Um abraço do amigo Leandro Stipanich.
Participante de 3 categorias do Ironman
Cat 13-14
Cat 12-13
e agora...ufa!!
Cat 11-12