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quinta-feira, 17 de maio de 2018

MINHA VIDA NO SPINNING - COMO TUDO COMEÇOU

Lembro que o ano era 1998. Havia acabado de deixar o Banco Real, onde trabalhei por alguns anos como Gerente de Contas. Estava desempregado desde o final de 1997, já cursava Educação Física (na verdade estava cursando o primeiro semestre) e passava os dias treinando igual um maluco.
Um certo dia meu amigo Milton Milton Pereira Alemão, na época diretor da Academia Unimonte, localizada na faculdade onde eu estudava Educação Física, me apareceu com uma proposta um tanto inusitada a princípio. Me disse que estava inscrito para um curso de bike indoor no ENAF de 98 em Poços de Caldas, e que não poderia ir, e que se eu quisesse era só combinar com o Renato Solano, que também estudava por lá, e rachar as despesas que o curso estava garantido. Minha primeira reação foi a de sorrir muito. Achava o "spinning" uma frescura, porque naquela época eu pedalava forte com o pessoal nas estradas, e não entendia como aquilo poderia me ajudar de alguma maneira na profissão.
Enfim, acabei aceitando e parti junto com o Renatinho para Poços de Caldas, O curso aconteceria em um sábado e domingo na parte da manhã e seria ministrado por um uruguaio chamado Daniel Boz. Eu não fazia ideia nem como se fazia uma regulagem daquela bicicleta. Os cursos, normalmente, oferecem no final de cada sessão diária uma aula prática para que os alunos exercitem os aprendizados. Sentei ali na frente dele, que na época era casado com uma japonesa que pedalava muito também.
Foi uma hora de pedal. As bikes eram umas da Reebok com a regulagem de carga parecendo aquelas manivelas de troca de marchas das antigas Caloi 10. "Principles of Lust", do Enigma, foi a primeira música a qual eu pedalei na minha vida. Pedalei como se estivesse em uma corrida de ciclismo, Aula extremamente forte. No final do primeiro dia de aula, o cara veio conversar comigo perguntando havia quanto tempo que eu já pedalava, porque ele percebeu que eu havia feito a aula com qualidade.
" Foi a primeira vez que eu subi em uma bike indoor na vida ", respondi.
Comprei os dois CD's de aulas que o Daniel Boz havia disponibilizado para quem quisesse utilizar em aulas. Não imaginava o quanto aquilo seria importante para mim em um futuro muito breve. Enfim. Ao final daquele segundo dia de curso, apareceu uma mulher na sala oferecendo aos participantes inscrições para o primeiro curso de certificação no Programa Johnny G Spinning® do mestre e amigo Johnny Goldberg, que aconteceria em alguns meses nas dependências da Runner Club, em São Paulo. Lembro que fiz a PRIMEIRA INSCRIÇÃO no Brasil, junto com o Renatinho Solano com a saudosa Vânia Ballo, que enquanto esteve nesse plano cuidou de todos os interesses do Spinning® no Brasil.
Retornamos para Santos. Na terça-feira, como de hábito, encontrei com duas dezenas de ciclistas logo cedo da manhã na Praça das Bandeiras, no Gonzaga, para mais uma sessão de pedal. Sempre saíamos em direção à Via Anchieta e nela resolvíamos sempre na hora se daríamos a volta por Cubatão em direção à Rio Santos ou se iríamos em direção à Mongaguá pela Piaçaguera. Os treinos eram sempre imensos. Naquele dia, demos a volta por Cubatão, entramos na Rio Santos e retornamos na Bertioga, porém ao invés de seguirmos em direção às Balsas, voltamos por Cubatão até a entrada de Santos. Estava um sol de rachar, já era próximo de 13h e passei junto com o pelotão, já em ritmo de passeio, em frente a Academia Galpão 4, na Avenida Ana Costa, onde antes por quase duas décadas reinou a Academia Olimpic Center, o primeiro empreendimento em Santos construído para ser uma academia, sem adaptações em casas, como era costumeiro na época. Em um rompante de coragem e irresponsabilidade, parei e entrei na "cara dura" achando que ali pudessem estar precisando de professor de bike.
Os proprietários da Galpão 4 eram o hoje meu amigo Joao Carlos Coelho ( Joãozinho ) e a Alzira Marques. Não conhecia nenhum dos dois. Perguntei pro João se estavam precisando de professores de bike e que eu era ciclista e que estava cursando Educação Física e que precisava começar a trabalhar. Ele me pediu que voltasse no dia seguinte, uma quarta-feira, para que eu desse uma aula experimental às 11h da manhã.
Aquele dia eu não dormi. Comecei a imaginar o quanto de insanidade havia na minha conduta ao aparecer em um lugar se oferecendo para dar aulas, se eu havia pedalado apenas duas vezes em um curso dois dias atrás. Imaginei que seria o pior dia da minha vida. Liguei para meu compadre Fred Longhin, parceiro dos bons de ciclismo, que na época era profissional na Memorial e já dava aulas de bike em Santos. Falei pra ele que havia feito um curso no sábado e domingo passado e que só possuía os dois CD's do curso do uruguaio. Me lembro que a única coisa que ele me disse foi:
" - Silvão, dá a aula mais forte que tu puder, tenta fazer o que o professor fez no curso. "
No dia seguinte lá estava eu, às 10h30. Joãozinho pediu que eu subisse com ele até a sala de bike, que na época ficava nas dependências do salão de festas da antiga academia, no último andar, junto à churrasqueira. Eram 12 bicicletas rústicas, com a regulagem feita por correias de couro presas à molas que eram esticadas por câmbios de Caloi 10, um sistema parecido com o das Reebok, porém bastante caseiro, rudimentar. Logo depois chegou a Alzira. Perguntei onde estavam os alunos, afinal de contas, seria uma "aula experimental" Tolinho. A aula seria só para ela, a proprietária.
Sim, minha primeira aula de ciclismo indoor na minha vida foi personalizada e sem registro profissional, situação que se estendeu depois por mais uns três ou quatro anos. Eu fugia mais do CREF naquela época do que quando fugia da imigração em Londres.
Voltando. Comecei a aula com aquele alongamentozinho básico e depois "Principles of Lust". Aliás, tenho na memória até hoje, vinte anos depois, toda a sequência de músicas daquele CD do Daniel Boz. Não me lembro ao certo da sequência de estratégias que utilizei naquela aula experimental, mas lembro que no final ela ficou feliz com o que fiz e acabou me contratando, criando um horário para mim que seria às 11h da manhã.
E já seria pra começar na segunda-seguinte. E eu não tinha tocador de cd's em meu rústico computador na época em casa, e pra piorar, a internet naqueles tempos era "discada" e para baixar uma simples música de 10mb no site "E-mule", muito famoso naqueles tempos, demorava-se até duas horas. Eu tinha que baixar as músicas, colocar em um pendrive, transferir para um "3 em 1" que eu possuía em casa para gravar em fitas K7 (sim, fitas K7).
Durante aproximadamente um mês essa foi a forma como eu me reinventei na vida depois de ter trabalhado tanto tempo em banco. Logo depois consegui colocar um gravador de CD's no meu PC e tudo ficou mais fácil um pouco. Comecei, repito, com as aulas do horário do almoço, às segundas, quartas e sextas. Depois de quinze dias, já estava também com uma aula às 7h da manhã e outra às 17h, no final de tarde. No dia em que eu comecei a dar aulas de ciclismo indoor as bikes já haviam descido para o local da foto, que era adaptado em um local onde na academia anterior existia uma sauna.











R$ 6,50 era o valor que eu recebia por cada aula dada em 1998. Algum tempo depois o Daniel Boz veio dar um curso de bike na Casa da Dança da querida Renata Abussafi Queiroga, e mesmo já tendo feito no ENAF, me inscrevi. E ali fiquei, contratado por ela, dando aulas naquele lugar delicioso e aconchegante também por alguns meses.
Alguns meses depois, fui fazer a minha certificação no Programa JG Spinning® em São Paulo. Retornei lotado de CD's dos professores Giba Ambrogi e Wilsinho Germano, professores formadores na época e que aproveitavam para faturar algum a mais vendendo suas aulas. Um ano depois meus patrões da Galpão 4 também se certificaram no Programa JG. Novas bikes da Schwinn (as top na época) foram compradas. Primeiro cinco, depois de meses mais quinze. Uma nova sala. E a vida seguiu, pelos vinte anos seguintes.
Mas isso é assunto para uma nova foto, para um novo textão !! Valeu quem chegou até aqui. Tenho certeza que muitos se identificarão com a história.

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